Muitas vezes nós cristãos lemos a Bíblia, e não damos a
atenção necessária à alguns princípios que estão ali. Lemos só no sentido
literal, ignorando os ensinamentos, fundamentos e princípios contidos. Entre
várias passagens que desprezamos estão as que falam sobre um deus chamado
Moloque, porque o que o envolve é absurdo em nossa cultura. Mas infelizmente, o
princípio que motiva certos comportamentos continuam vivos mesmo hoje.
Deus abomina a adoração a Moloque, deus dos amonitas (povo
que surgiu do incesto das filhas de Ló com seu pai - Gênesis 19:31-37). O detalhe é que esse deus dos amonitas não é
servido com qualquer tipo de sacrifício. Ele exige sacrifício de crianças, especificamente
dos filhos, da descendência, das gerações futuras, dos herdeiros. Para se
adorar este deus, era feita uma estátua dele, tendo em seu ventre uma cavidade,
na qual se acendia fogo, e ali se jogavam as crianças ainda vivas (geralmente
recém nascidas) em sacrifício à ele. Isso realmente é algo muito forte, e infelizmente
quero te dizer que ainda hoje, em nossa cultura, este tipo de adoração é mais
comum do que você imagina; talvez não literalmente, mas nos princípios que
permeiam esse comportamento.
Vamos entender algo sobre a primeira vez que Deus fala sobre
Moloque. No capítulo 18 do livro de Levíticos, Deus ensina à Moisés vários
mandamentos, sendo que neste capítulo específico, todos são em relação à área
sexual: não é permitido relação sexual com a mãe, irmã, tia, animal, e etc, ou
seja, perversões. O interessante é que exatamente no meio desses mandamentos,
parece que Deus muda de assunto e diz: "Não
entregue os seus filhos para serem sacrificados a Moloque. Não profanem o nome
do seu Deus. Eu sou o Senhor" (Levítico 18:21); e
depois continua o assunto na área sexual.
No capítulo 20 do livro de Levíticos, acontece praticamente
a mesma coisa. Nesse capítulo, Deus explica qual é a punição para os que
cometem os pecados do capítulo 18. Deus começa exatamente dizendo a punição que
vai sofrer quem sacrificar seus filhos a Moloque: "Diga aos israelitas: Qualquer israelita ou estrangeiro residente
em Israel que entregar um dos seus filhos a Moloque, terá que ser executado. O
povo da terra o apedrejará" (Levítico 20:2 ); e só depois
começa a punição em relação aos outros pecados na área sexual. Porque Deus
trata no mesmo contexto, dois assuntos aparentemente tão diferentes? Para
responder a isso, precisamos compreender como o povo Amonita foi formado e o
que os levou a adorar a Moloque.
A história dos
Amonitas começa com Ló, sobrinho de Abraão, quando ele habitava Sodoma. Deus decretou
juízo sobre a cidade de Sodoma e Gomorra, ("porque
estamos para destruir este lugar. As acusações feitas ao Senhor contra este
povo são tantas que ele nos enviou para destruir a cidade". Gênesis
19:13), cidade que se entregou totalmente aos seus desejos, toda sorte de
perversões, inclusive sexual. Vamos deixar claro que o conceito de perversão
não se trata apenas da área sexual; perversão abrange todas as áreas da vida. A
Bíblia relata um pouco como eram os moradores dessa cidade. Deus mandou dois
anjos para retirarem Ló com toda sua família daquela cidade, e o povo de lá
queria que Ló entregasse os anjos para terem relações sexuais com eles. (Chamaram Ló e lhe disseram: "Onde
estão os homens que vieram à sua casa esta noite? Traga-os para nós aqui fora
para que tenhamos relações com eles". Gênesis 19:5 ). Mas o nível
da natureza corrupta dos moradores daquele lugar, inclusive de Ló, era tão
grande que Ló propôs entregar suas duas filhas virgens para o povo fazer o que
quisesse com elas, no lugar dos anjos do Senhor. (Ló saiu da casa, fechou a
porta atrás de si e lhes disse: "Não, meus amigos! Não façam essa
perversidade! Olhem, tenho duas filhas que ainda são virgens. Vou trazê-las
para que vocês façam com elas o que bem entenderem. Mas não façam nada a estes
homens, porque se acham debaixo da proteção do meu teto". Gênesis
19:6-8 ). Os anjos não permitiram que as filhas de Ló fossem entregues, e protegeram
Ló e sua família, tirando-os da cidade, a qual foi destruída pelo Senhor logo
em seguida.
Depois de ir para uma pequena cidade, Ló e suas duas filhas
foram morar em cavernas. Eles não estavam mais em Sodoma e Gomorra, mas a
cultura daquela cidade ainda estavam neles. Prova disso foi o que suas duas
filhas tramaram contra Ló:
"um dia, a filha
mais velha disse à mais jovem: "Nosso pai já está velho, e não há homens
nas redondezas que nos possuam, segundo o costume de toda a terra. Vamos dar
vinho a nosso pai e então nos deitaremos com ele para preservar a linhagem de
nosso pai. Naquela noite deram vinho ao pai, e a filha mais velha entrou e se
deitou com ele. E ele não percebeu quando ela se deitou nem quando se levantou.
No dia seguinte a filha mais velha disse à mais nova: "Ontem à noite
deitei-me com meu pai. Vamos dar-lhe vinho também esta noite, e você se deitará
com ele, para que preservemos a linhagem de nosso pai. Então, outra vez deram
vinho ao pai naquela noite, e a mais nova foi e se deitou com ele. E ele não
percebeu quando ela se deitou nem quando se levantou. Assim, as duas filhas de
Ló engravidaram do próprio pai. A mais velha teve um filho, e deu-lhe o nome de
Moabe; este é o pai dos moabitas de hoje. A mais nova também teve um filho, e
deu-lhe o nome de Ben-Ami; este é o pai dos amonitas de hoje." (Gênesis
19:31-38).
Os adoradores de Moloque são pervertidos porque pensam em si
mesmos, mesmo que com isso envolvam seus filhos. As filhas de Ló não pensaram
em seu pai ou na iniqüidade que estavam agregando para as gerações futuras. Só
pensaram em sua vontade de ter um família a qualquer custo e sem a dependência
de Deus. Não creram que Deus era capaz de lhes trazer um marido para gerarem
filhos, e tão pouco estavam dispostas a esperar (ao contrário de Abraão). Tudo
o que queriam era seu desejo realizado naquele momento.
Entendendo como os Amonitas se originaram, com do incesto
das filhas de Ló, conseguimos entender porque no livro de Levíticos, Deus trata
da adoração a Moloque exatamente no contexto de várias perversões sexuais.
Quando Deus fala de relações sexuais ilícitas, Ele está apontando para vontade
e desejo obstinado no coração do ser humano, de satisfazer aquilo que está em
seu coração, não importando com o próximo, e nem com nenhuma conseqüência.
Quando uma pessoa deseja e tem relação sexual por exemplo com a própria mãe,
como cita a Bíblia, você acha que essa pessoa está preocupada com sua mãe, ou
com o seu pai, ou com qualquer conseqüência que aquilo pode trazer para sua
vida ou a de qualquer outra pessoa envolvida? Claro que não, o que importa
naquele momento é o seu desejo e vontade realizada, só isso, custe o que
custar. Isso é a obstinação na vontade do coração, não se consegue enxergar o
outro, somente a si mesmo. E o que isso tem haver com Moloque, e sacrificar os
filhos? O que Deus está falando é que
essa obstinação na vontade do nosso coração coloca os nossos filhos, nossa
descendência, as futuras gerações em risco a ponto de destruí-los. A obstinação
da vontade humana se torna tão grande, que ele não se importa se a conseqüência
da sua vontade realizada, é a destruição de seus próprios filhos.
Em Isaías 57 Deus fala exatamente sobre essa cultura de
Moloque dos amonitas para o povo de Israel, e olha só o que Ele diz no versículo
5: "Vocês ardem de desejo entre os
carvalhos e debaixo de toda árvore frondosa; vocês sacrificam seus filhos nos
vales e debaixo de penhascos salientes. "
É isso que Deus está dizendo: a cultura de viver para nós
mesmo, a cultura da obstinação do desejo do nosso coração sacrificam nossos
filhos.
No capítulo 7 do livro de Atos, os líderes religiosos da
época prenderam Estevão após tramarem dizendo que ele estava blasfemando, sendo
isso mentira. Então o sumo sacerdote pediu explicação à Estevão sobre aquelas
acusações. Em defesa Estevão fez uma explanação desde Abraão até os profetas
dizendo tudo o que Deus fez pela nação de Israel e toda obstinação do povo em
não seguir ao Senhor, e sim suas próprias vontades. Em meio a explanação,
diante de tantos deuses que o povo de Israel seguiu em sua obstinação, Estevão
cita no versículo 43 exatamente o deus dos amonitas, Moloque:
"Ao invés disso,
levantaram o santuário de Moloque e a estrela do seu deus Renfã, ídolos que
vocês fizeram para adorar! Portanto, eu os enviarei para o exílio, para além da
Babilônia."
Ainda nesse contexto Estevão expõe a explicação de Deus de
porque o povo agia dessa forma, até ao ponto de destruir sua própria
descendência, seus próprios filhos:
"Povo rebelde,
obstinado de coração e de ouvidos! Vocês são iguais aos seus antepassados: sempre
resistem ao Espírito Santo!" (Atos 7:51)
Esse é o motivo do povo de Israel chegar ao ponto de mesmo
conhecendo ao Senhor e seus mandamentos, seguir o deus Moloque, e entregar seus
filhos em sacrifício a ele. A obstinação da vontade do coração!
Um dos reis de Judá, o rei Acaz chegou a esse extremo. Sua
obstinação pelos seus caminhos foi tão grande, que ele mesmo sacrificou alguns
de seus filhos no fogo. ("Queimou sacrifícios no vale de Ben-Hinom e
chegou até a queimar seus filhos em sacrifício, imitando os costumes
detestáveis das nações que o Senhor havia expulsado de diante dos
israelitas." 2 Crônicas 28:3).
O Senhor explica porque Acaz chegou a esse ponto de
sacrificar seus próprios filhos. A Bíblia diz que Acaz era um rei mal aos olhos
de Deus. Por causa de todas abominações que cometeu inclusive a citada
anteriormente, o Senhor entregou ele e a nação de Judá nas mãos de um de seus
inimigos, o rei da Síria (2 Crônicas 28:5). Mas Acaz era tão voltado para si
mesmo que em vez de refletir sobre seus caminhos, sobre a obstinação do seu
coração ele teve uma idéia: se dispôs a sacrificar aos deuses do rei da Síria,
do povo de Damasco que o havia derrotado, pois pensou que como esses deuses
estavam ajudando seus inimigos, talvez se ele sacrificasse à eles, ajudariam
ele também. (2 Crônicas 28:23). O que ele quis dizer com essa atitude era que
ele estaria disposto a fazer o que fosse preciso para que o seu reinado, seus
planos, sua vontade não fosse perturbada, e que se realizasse como propôs no
seu coração, não importando o como e nem as conseqüências. Por isso ele chegou
ao ponto de sacrificar seus filhos no fogo, ou seja, à Moloque.
Dentro da obstinação da nossa vontade, que destrói nossos filhos,
existe também o abandono. Famílias que se desfazem porque não conseguem abrir
mão de seu ego, seus prazeres, suas vontades, não conseguem amar, sofrer o
dano, perdoar, pedir perdão, se sacrificar em prol daqueles que amam, e abandonam
seus filhos, permitindo que se tornem órfãos não só de pais e mães, mas também
de referências. São crianças adotadas pela orfandade, pelo abandono. Importante
entender que não é necessário haver separação física da família para haver esse
abandono. À medida que escolhemos por nós mesmo, estamos sacrificando aqueles
que estão à nossa volta, principalmente família e filhos.
Pais extremamente carentes, que criam os filhos para
satisfazer suas debilidade emocionais. Pais ausentes e omissos, pois preferem
continuar suas vidas como tinham planejado, do que gerar segurança, educação,
princípios não só de palavras, mas principalmente de comportamento (que os
filhos vêem todos os dias).
Existem muitos outros exemplos, e você mesmo deve saber de
um. A verdade, é que vivemos em uma geração que vive para si mesmo, obstinada
naquilo que está em seu coração, para satisfazer seus desejos e vontades, e
isso está destruindo a nossa descendência, a próxima geração, nossos filhos, de
diversas formas, podendo chegar até a morte física com certeza. Uma geração que
confessa Deus como Senhor de suas vidas e famílias, mas na prática, oferece
todos os dias seus filhos em sacrifício a Moloque, porque julgam que não vale a
pena abrir mão de seus interesses promíscuos, perversos, corruptos e egoísta
por aqueles que Deus colocou em nossas mãos, nossos filhos.
"Construíram o
alto para Baal no vale de Ben-Hinom, para sacrificarem a Moloque os seus filhos
e as suas filhas, coisa que nunca ordenei, prática repugnante que jamais
imaginei; e, assim, levaram Judá a pecar". Jeremias 32:35
O que Deus está querendo nos ensinar é que os interesses da
família são a frente dos nossos, mesmo que isso sacrifique muitas das nossas
vontades, e que não traga nenhum benefício próprio aparente. Exatamente como o
próprio Deus, que nos amou primeiro através de seu Filho.
Geraldo Júnior e Valéria Morais
Transformados pela Renovação do Pensamento
https://renovacaodopensamento.blogspot.com.br/
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