diHITT - Notícias Transformados pela Renovação do Pensamento: abril 2018

sexta-feira, 6 de abril de 2018

A Arrogância de Jonas


Jonas foi um profeta israelita da tribo de Zebulom. Ele era amado por Deus e tinha um conhecimento significativo sobre Deus.

“E orou ao Senhor, e disse: Ah! Senhor! Não foi esta minha palavra, estando ainda na minha terra? Por isso é que me preveni, fugindo para Társis, pois sabia que és Deus compassivo e misericordioso, longânimo e grande em benignidade, e que te arrependes do mal”. Jonas 4:2

Ainda assim, Jonas tinha o entendimento equivocado sobre a vida, sobre ele mesmo, e sobre o seu propósito, pois não os compreendia segundo o pensamento de Deus. Ele não concordava com o agir de Deus, e isso gerava uma crise interna muito grande nele. Mas porque Jonas pensava assim, a ponto de discordar de Deus? Pois bem, vamos entender neste texto o que Deus expõe sobre o comportamento e pensamento de Jonas, e o que ele cria sobre a vida.

Logo no início do livro de Jonas, o Senhor o envia a Nínive. Deus queria que ele proclamasse ao povo de Nínive que se eles não se arrependessem de sua maldade Ele iria destruí-los.
“A palavra do Senhor veio a Jonas, filho de Amitai com esta ordem: ‘Vá depressa à grande cidade de Nínive e pregue contra ela, porque a sua maldade subiu até a minha presença’". Jonas 1:1,2

Nínive era uma das cidades inimigas de Israel, sendo o povo desta cidade, extremamente violento e cruel, de fama conhecida. Para se ter uma ideia depois de suas vitórias em guerra, estavam acostumados a cortar as mãos e os pés, os narizes e as orelhas, furar os olhos e a fazer pirâmides com as cabeças humanas. Na Bíblia, o profeta Naum testifica sobre isso quando diz: “Ai da cidade sanguinária, repleta de fraudes e cheia de roubos, sempre fazendo as suas vítimas!” Naum 3:1

Óbvio que Jonas sentia medo e raiva daquele povo. Mas o que realmente incomodou e deixou Jonas irritado com Deus, foi a possibilidade daquela cidade ser salva!  Dentro dos conceitos de Jonas e sua justiça própria era inconcebível que Nínive tivesse chance de salvação. Mesmo que essa oportunidade viesse de Deus, Jonas queria vingança, vendo essa cidade totalmente destruída. Como resposta à esse desejo de vingança, Jonas foge da direção de Deus. Essa fuga, além de ser uma fuga de seu propósito e uma desobediência à Deus foi um levante contra o Senhor, sendo uma clara mensagem à Deus: “Não concordo com Sua vontade! O Senhor está sendo injusto e um Deus ruim, e se eu fosse Deus eu faria diferente!”

Nisto Jonas manifestou seu conceito leviano e deturpado de vida, juntamente com toda sua arrogância e orgulho em achar que sabia o que era melhor para si e para as pessoas. Essa arrogância era tão grande que ele aceitou abrir mão de seu propósito para sustentá-la. E ele fugiu para o mar.

“Porém, Jonas se levantou para fugir da presença do Senhor para Társis. E descendo a Jope, achou um navio que ia para Társis; pagou, pois, a sua passagem, e desceu para dentro dele, para ir com eles para Társis, para longe da presença do Senhor.” Jonas 1:3

Mas Deus amava Jonas e queria salvá-lo de sua perspectiva corrompida e pervertida da vida. Deus queria mostrar que nossa vida só faz sentido e só somos transformados quando seguimos nosso propósito dado por Deus. “Queridos irmãos, vocês sempre seguiram cuidadosamente as minhas instruções quando eu me encontrava no vosso meio. E agora, quando estou ausente, devem ainda com maior cuidado desenvolver nas vossas vidas a salvação de Deus, obedecendo-lhe com profunda reverência e temor.” Filipenses 2:12 

No livro de Jonas, vemos uma pessoa com direção clara de Deus para sua vida, para o cumprimento de seu propósito. Mas Jonas era arrogante tendo os conceitos deste mundo como absolutos, e não a vontade de Deus. 

No livro de Jonas, o mar simboliza o mundo e os conceitos do mundo. O mar são as sugestões e as certezas que o mundo oferece. Jonas engolido pela baleia simboliza ele sucumbido por sua arrogância, sem ter para onde fugir. Como analogia pode-se dizer que quando o orgulho entra nos pensamentos de uma pessoa, é como se uma baleia a engolisse, e em seu estômago, as enzimas vão  “dissolvendo-a” ainda vivas, sem ter para onde fugir.

Quando os conceitos do mundo e a arrogância estão fortes em uma pessoa, esta não entende o propósito de Deus para sua vida. Neste estado, caminha em direção à morte de seu propósito. É como se morresse afogado por seus próprios pensamentos, dentro da sua própria vontade, dentro da própria obstinação. 

“Mas os ímpios são como o mar bravo, porque não se pode aquietar, e as suas águas lançam de si lama e lodo”. Isaías 57:20

Outro exemplo bíblico de pessoa que em sua soberba foi sucumbida pelo mar, foi Faraó no Egito. Quando Deus envia Moisés para falar a Faraó deixar Seu povo ir, Faraó não aceita por causa de sua arrogância, e como consequência, Faraó morreu afogado em sua própria obstinação.

“Porque os cavalos de Faraó, com os seus carros e com os seus cavaleiros, entraram no mar, e o Senhor fez tornar as águas do mar sobre eles; mas os filhos de Israel passaram em seco pelo meio do mar”. Êxodo 15:19

“Mas derrubou a Faraó com o seu exército no Mar Vermelho; porque a sua benignidade dura para sempre”. Salmo 136:15

Algumas tempestade em nossas vidas vistas como juízo de Deus, são na verdade oportunidades de arrependimento, para que tenhamos a chance de entender o quão perigosos são os conceitos deste mundo (o mar). Exemplo disso, é o que aconteceu com Jonas, quando veio a tempestade sobre o barco usado por ele para fugir do propósito de Deus. “O Senhor, porém, fez soprar um forte vento sobre o mar, e caiu uma tempestade tão violenta que o barco ameaçava arrebentar-se.” (Jonas 1:4). 

O mar traz a arrogância com todos os conceitos deste mundo, com todas as suas afirmações, sofismas, sedução, o “eu posso”, “eu faço”, “eu controlo”, “eu tenho poder” sobre mim mesmo, sobre as circunstâncias, sobre o próximo. A tempestade mostra a mentira da arrogância, tirando a calmaria do mar, e mostrando que só há Um que tem o poder sobre todas as coisas: O Senhor Jesus Cristo. Isso acontece porque na calmaria do mar, parece que tudo vai dar certo, mas é em meio à tempestade do mar que entendemos que não temos controle, que nossas verdades são lixo, e só assim, temos a oportunidade de reconhecer os caminhos do Senhor como verdadeiros, nos arrependendo e clamando ao Senhor para levar-nos de volta ao nosso propósito. 

Neste caso, não é o coração que é duro, e sim a dureza da cerviz (pescoço que não se curva), ou seja, a pessoa que não submete seu entendimento ao Senhor. A arrogância (dura cerviz) vê a tempestade, e mesmo assim afirma “ eu estou certo, não tenho outro deus além de mim”. 

“Circuncidai, pois, o prepúcio do vosso coração, e não mais endureçais a vossa cerviz”. Deuteronômio 10:16

“Homens de dura cerviz, e incircuncisos de coração e ouvido, vós sempre resistis ao Espírito Santo; assim vós sois como vossos pais”. Atos 7:51

O arrogante diz “eu sou, eu me fortaleço, eu me desejo, eu me regozijo, eu sou o que sou e eu sou”. Em sua arrogância, ele se coloca como um deus, mas seus pensamentos não passam de areia debaixo dos pés, afundando-o nos conceitos deste mundo. Somente o Senhor é Rocha, e somente n’Ele nossos pés não vacilam.

“Todo aquele, pois, que escuta estas minhas palavras, e as pratica, assemelhá-lo-ei ao homem prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha; E desceu a chuva, e correram rios, e assopraram ventos, e combateram aquela casa, e não caiu, porque estava edificada sobre a rocha. E aquele que ouve estas minhas palavras, e não as cumpre, compará-lo-ei ao homem insensato, que edificou a sua casa sobre a areia; E desceu a chuva, e correram rios, e assopraram ventos, e combateram aquela casa, e caiu, e foi grande a sua queda”. Mateus 7:24-27

O mar é como uma lembrança da terra (aquilo que poderia ter sido), de um propósito que se afogou (humilhado): as estrelas não estão no céu mas na areia, os cavalos e seus cavaleiros se tornam cavalos marinhos minúsculos e lentos, as árvores são algas molengas. A terra para o mar é uma evidência para aqueles que estão presos em sua arrogância, de que existe terra firme, existe uma Rocha, existe esperança de uma vida que vale a pena. Existe uma promessa de que o Senhor resgata aqueles que estão presos no mais profundo do mar, no mais profundo abismo.

“Não és tu aquele que secou o mar, as águas do grande abismo? O que fez o caminho no fundo do mar, para que passassem os remidos?” Isaías 51:10

“Assim diz o Senhor, o que preparou no mar um caminho, e nas águas impetuosas uma vereda” Isaías 43:16

Voltando ao exemplo de Jonas, a baleia pode no fim tê-lo salvo, mas o objetivo era mostrar sua a arrogância e a consequência desta. Jonas dentro da baleia teve a consciência de alguém que não tinha para onde fugir, e que não morreria simplesmente afogado, mas seria corroído (enzimas digestivas da baleia) dentro dos seus próprios desejos e obstinação, dentro da sua própria raiva e amargura, vendo que não conseguia controlar seu próprio destino. Quando Jonas teve consciência de sua loucura em se levantar contra Deus (“fugir”), teve a chance de entender que existe um caminho e um propósito. 

A raiva de Jonas não era porque ele era profeta, mas sim porque ele não tinha misericórdia, era muito egoísta, e era guiado por seus desejos; ele era um deus em si mesmo. Jonas não era almático, nem mimado; ele se sentia dono da verdade, se fazendo como um deus dentro da suas vontades e desejos, alguém movido pela sua própria arrogância e auto satisfação. Jonas era alguém que julgava poder escolher quem deveria morrer ou viver, quem era merecedor de  misericórdia e quem não era. Ele não simplesmente discordava de Deus, ele tinha raiva de Deus, porque não conseguia ser Deus; porque se ele fosse Deus, ele agiria diferente. Jonas era um tolo, seu entendimento era corrompido pelos conceitos deste mundo. Ele não entendia o macro e nem queria entender. Ele não pensava nos outros e nem queria pensar. Ele pensava em si e seu desejo de vingança. Ele não tinha um conceito de família, de sociedade, do outro. Tudo era para si e por si. Ainda assim Deus o amava, e não se esquecia do propósito da vida dele. Deus poderia ter escolhido outro profeta, mas não o fez, para poder ensinar para Jonas a se importar, a entender sua pequenez, aprender a ter compaixão, aprender quem é Cristo e como Cristo é, para que Jonas pudesse ser salvo de sua arrogância e egoísmo, e conhecesse o Pai. 

Se Deus teve misericórdia de Nínive, porque não teria de Jonas. Deus é longânimo, e pergunta para Jonas “Você tem alguma razão para essa fúria?" (Jonas 4:4). Quando a aboboreira criado por Deus para ser sombra para Jonas morreu, Deus pergunta novamente “Você tem alguma razão para estar tão furioso por causa da planta? Respondeu ele: “Sim, tenho! E estou furioso a ponto de querer morrer’.” (Jonas 4:9) Deus mesmo responde o porquê da raiva de Jonas (Jonas 4: 9-11): é porque a vida daquela árvore não estava satisfazendo os desejos dele. A raiva de Jonas não é porque a árvore não cumprui o propósito, a raiva é porque ele queria controlar a árvore, para que a árvore vivesse eternamente em função dele, ele não queria o propósito da árvore, ele queria ser um deus, onde ele comandasse tudo em função dele, onde não existe o pensamento em relação ao próximo. Deus fez crescer aquela árvore ali para mostrar para Jonas o nível de seu orgulho e egoísmo. 

Deus é benigno e longânimo (Jonas 4:2). Jonas sabia disso, ele só não entendia que Deus também estava sendo benigno e longânimo para com ele, quando o enviou para pregar em Nínive. Deus também estava dando a chance de Jonas se arrepender de seu egoísmo e arrogância.

O sol escaldante, a crise da árvore morta em nossas vidas é para nos lembrar que não somos suficientes em nós mesmos, que nós não temos o poder do controle, que existe um propósito maior, que o mundo não é fundado na pequenez dos nossos pensamentos. Muitas situações difíceis vêm para nos acordar, para lembrar que existe um Deus e um propósito, para mostrar conceitos errados sobre a vida, sofismas e trazer esperança de se viver uma vida verdadeira, onde os propósitos se cumprem. 

“Porque eu bem sei os pensamentos que tenho a vosso respeito, diz o Senhor; pensamentos de paz, e não de mal, para vos dar o fim que esperais”. Jeremias 29:11

Em todo tempo, Deus estava dando uma chance para Jonas de se comportar como filho de Deus. Mas Jonas foge como um servo, vendo o propósito como um serviço. Entretanto, Deus estava  mostrando para Jonas que ele era tratado como filho, e como o coração de um filho deve ser para se cumprir seu propósito.


Geraldo Júnior e Valéria Morais
Transformados pela Renovação do Pensamento
https://renovacaodopensamento.blogspot.com.br/

quarta-feira, 4 de abril de 2018

Orgulho como consequência da orfandade


A orfandade paterna hoje é uma das maiores, senão a maior ferida da humanidade. Nada tem um poder tão grande de destruir a personalidade, princípios, valores e identidade de uma pessoa do que a falta de um referencial paterno. Esta orfandade pode ocorrer tanto na forma física, com a ausência física de um pai; quanto na ausência emocional, com um pai presente fisicamente, mas sem compromisso, gerando órfãos conhecidos como órfãos de pais vivos, ou órfãos de pai presente.

Atualmente temos muitos estudos que comprovaram a imprescindibilidade de um referencial paterno na vida de uma pessoa, pois é o pai o responsável por ser referencial para o filho ter identidade, caráter, auto afirmação e convicção de quem ele é, e trazer também a base de princípios e valores onde é construída sua personalidade. O referencial de pai é tão imprescindível na vida de um filho, que um dos principais propósitos de Jesus foi nos revelar o Pai, e mostrar que não éramos órfãos, que tínhamos um Pai, o qual se revelava e se manifestava n’Ele. “Disse-lhe Jesus: Estou há tanto tempo convosco, e não me tendes conhecido, Filipe? Quem me vê a mim vê o Pai; e como dizes tu: Mostra-nos o Pai?” João 14:9

Conforme dito no início, as feridas e as consequências da orfandade são enormes, terríveis e várias. Mas neste texto quero me ater especificamente a uma dessas consequências, extremamente destrutiva para uma pessoa, e infelizmente muito comum dentro da orfandade. Estou falando do ORGULHO. Coloquei tudo maiúsculo de propósito, pois o orgulho é uma das piores deformidades da alma de um ser humano. É um comportamento que nos deixa profundamente distantes do caráter de Deus, da nossa verdadeira identidade e propósito. Sem falar que é um comportamento que traz muita destruição para a vida da própria pessoa e para todos que estão ao redor dela.

Mas como o orgulho passa a fazer parte da pessoa? Uma pessoa que não teve o referencial de pai, de caráter, de entendimento, a transmissão do DNA de entendimento de perspectiva da vida, de consciência de si, de honra no sentido de atitudes, não teve a base paterna para ter segurança em si mesmo; consequentemente terá problema de identidade.

O que quero dizer com problema de identidade? Significa que a ausência de paternidade gera uma ausência de convicção de princípios, de direção na vida; de maturidade em saber tanto acertar quanto errar, não saber firmar os pés no sentido de entendimento de si mesmo.

A pessoa que tem problema com paternidade (o pai não transferiu para ela uma identidade), desenvolve comportamento de orgulho como uma busca de auto afirmação daquilo que ela não tem, porque ela não tem onde firmar seus pés.

A arrogância surge como uma resposta de compensação: “eu não sei quem sou, mas tenho habilidade em ‘tal’ sentido”, então sou o que faço”. Como consequência a pessoa passa a se orgulhar daquilo que sabe fazer para compensar a ausência do “sei quem sou”.

Isso acontece porque a pessoa está perdida, não sabe diferenciar identidade (que viria transmitida pela paternidade) de habilidade (dom). O orgulhoso tem uma ferida em relação à paternidade: a dificuldade em saber sua identidade, e por isso precisa provar-se para si e para os outros, tentando passar uma imagem de ser forte. O orgulho faz com que a pessoa considere se importante demais para si mesmo.

O soberbo queria ter uma identidade forte, mas ele não tem. Se ele possuísse uma imagem forte de si mesmo, não precisaria se orgulhar. Perguntaram para Jesus se ele era servo de  Belzebu, mas ele não se ofendeu (Lucas 11:15); as pessoas o xingaram, cuspiram, falaram mal, difamaram, inventaram histórias sobre Jesus, mas nada o atingiu, porque Jesus tinha identidade, ele aprendeu do Pai quem ele era.

E, despindo-o, o cobriram com uma capa de escarlate; “E, tecendo uma coroa de espinhos, puseram-lha na cabeça, e em sua mão direita uma cana; e, ajoelhando diante dele, o escarneciam, dizendo: Salve, Rei dos judeus. E, cuspindo nele, tiraram-lhe a cana, e batiam-lhe com ela na cabeça. E, depois de o haverem escarnecido, tiraram-lhe a capa, vestiram-lhe as suas vestes e o levaram para ser crucificado”. Mateus 27:28-31

“Ele foi oprimido e afligido, mas não abriu a sua boca; como um cordeiro foi levado ao matadouro, e como a ovelha muda perante os seus tosquiadores, assim ele não abriu a sua boca.” Isaías 53:7

A pessoa com identidade não fica abalada quando seu orgulho é atingido. A pessoa que se abala é exatamente porque não tem identidade firmada, porque sua convicção está fundamentada no orgulho (preso a necessidade de ser o melhor em suas habilidades) e não em uma verdade.

O fundamento do orgulho pode ser comparado a se ter os pés na areia. Por mais que a pessoa imagine ter convicção sobre si mesmo, na verdade, aquilo é areia. Como o orgulho é uma compensação pela ausência de identidade, a pessoa sente a necessidade de amenizar o vazio da falta dessa identidade, se agarrando a tudo o que consegue fazer com desenvoltura, ficando com ego super inflado quando se sobressai nas situações. Mas esta é uma sensação que dura apenas alguns momentos, e logo em seguida sente-se quase que uma depressão e nisto a necessidade de ser aplaudido novamente. Entretanto, é impossível sobressair-se sempre.

A soberba desenvolve-se como um vício, uma dependência, e consequentemente uma oscilação emocional muito forte porque sempre tem que se estar certo, sempre tem que ser o poderoso, ser o que manda, acertar tudo; mas na vida é impossível que o “sempre” aconteça. Por isso é impossível sustentar o vício do orgulho elevado sem intervalos.

Mesmo que uma pessoa tenha áreas em sua vida que se destaque, ninguém consegue se destacar em tudo. Então é como se dentro da pessoa houvesse aqueles momentos de êxtase e os momentos de depressão. Ela vive os êxtases e as “pancadas das quedas”. É uma pessoa emocionalmente imatura e insegura, porque só sabe viver no êxtase. Tudo que abala este êxtase mexe com seu ego. Ou é uma pessoa que tem o domínio, ou sente-se em profunda frustração. Não existe meio termo. É realmente como um vício, a pessoa não sabe viver no meio termo. Ou a pessoa está eufórica, porque tudo saiu do jeito que ela queria, ou ela está “na mais profunda lama”.  Não sabe viver o contente em todas as circunstâncias da vida como nos ensina Bíblia: “Não estou dizendo isso porque esteja necessitado, pois aprendi a adaptar-me a toda e qualquer circunstância. Sei o que é passar necessidade e sei o que é ter fartura. Aprendi o segredo de viver contente em toda e qualquer situação, seja bem alimentado, seja com fome, tendo muito, ou passando necessidade.” Filipenses 4:11-12

Como um vício, a arrogância pode desenvolver-se gradualmente e segundo as carências de cada um.

A questão do sentimento de depressão que a pessoa sente quando não está em êxtase, não se manifesta com o sentimento de querer morrer (ainda que possa acontecer), mas se manifesta como um sentimento de se sentir diminuído diante das outras pessoas (reputação). A pessoa não precisa estar numa posição tão abaixo, basta estar menos do que o auge. Mesmo que se esteja no mesmo nível de um grupo de pessoas, o sentimento de fracasso existirá, porque o orgulhoso sente necessidade de estar acima do grupo para ter o ego super elevado.

O ego do arrogante é desproporcional porque sua perspectiva é o ego, e não a realidade. O orgulhoso engana a si mesmo. Mesmo que existam áreas em sua vida que tenha facilidade, o soberbo engana a si mesmo, crendo que ele tem facilidade em tudo. Mas Deus não nos criou para termos facilidade em tudo, nos criou como corpo, para que os dons de cada um se completem.

“O olho não pode dizer à mão: Eu não preciso de ti; nem a cabeça aos pés: Não necessito de vós. Antes, pelo contrário, os membros do corpo que parecem os mais fracos, são os mais necessários. E os membros do corpo que temos por menos honrosos, a esses cobrimos com mais decoro. Os que em nós são menos decentes, recatamo-los com maior empenho, ao passo que os membros decentes não reclamam tal cuidado. Deus dispôs o corpo de tal modo que deu maior honra aos membros que não a têm, para que não haja dissensões no corpo e que os membros tenham o mesmo cuidado uns para com os outros.
Se um membro sofre, todos os membros padecem com ele; e se um membro é tratado com carinho, todos os outros se congratulam por ele. Ora, vós sois o corpo de Cristo e cada um, de sua parte, é um dos seus membros”. 1 Coríntios 12:21-27

O orgulhoso tem uma vida de frustrações: de altos e baixos; sendo emocionalmente instáveis.

Como em um vício, o fator destrutivo também aparece, tanto se auto destruindo como destruindo tudo à sua volta (família, amizades, emprego...). Destrói qualquer coisa para manter o vício.

Quando Deus fala de orgulho na Bíblia, a entidade que Ele mostra para representar o orgulho (Leviathan) mora no mar. “Naquele dia o SENHOR castigará com a sua dura espada, grande e forte, o leviatã, serpente veloz, e o leviatã, a serpente tortuosa, e matará o dragão, que está no mar.”  (Isaías 27:1). O mar nos dá a analogia perfeita de como é a vida de quem vive no orgulho. No mar não há firmeza, é tudo muito instável. O fundamento do mar é areia. Quando se acha que há paz e estabilidade, uma onda, uma tempestade ou uma correnteza vem e acaba com tudo aquilo, trazendo medo, raiva, instabilidade, angústia e insegurança. Dentro do mar não se vive a verdade, não precisa ter equilíbrio, não precisa e nem consegue se firmar em nada, não sente ou sofre a gravidade, não sente ou sofre os desafios de um ser humano em terra. No mar é impossível desenvolver a natureza humana. Por isso a pessoa perde sua identidade, propósito e natureza.

Usando a analogia bíblica do mar pode-se dizer que o arrogante tem sua vida e suas emoções como de quem “vive” no mar: ondas, correntezas, dificuldade de se locomover andando, sensação de peso quando se sai da água (sair da água simboliza ir para vida real). Quando vem uma ventania, as ondas se agitam e no agitar delas, elas o carrega. Mas ao mesmo tempo, sensação de leveza quando se está dentro d`água. O mar é um bom exemplo porque ele confunde muito, tira o referencial das sensações da realidade na terra (vida).

No mar não conseguimos ter domínio sobre nós mesmos porque vem uma correnteza e nos muda de posição. É a analogia de se alcançar uma posição de destaque e depois aparecer uma situação em que se perde a posição alcançada. Sempre existe “um peixe maior”, sempre vai aparecer alguém que se destaca mais, que tem mais facilidade.

O orgulhoso tem muita dificuldade de relacionamento, porque sempre tem que ser exaltado nas situações e quando não o é, fica extremamente irritado, porque se sente humilhado, agredido.

Por não estar firmado em terra, na rocha, o viciado em orgulho não sente as dificuldades da vida como algo normal, ele percebe tudo como uma pancada, uma agressão pessoal; tudo entra arrebentando, tudo desmorona a pessoa. Ao perceber essa instabilidade da vida, começa a achar que Deus é injusto. Quando aparece alguém que faz algo de forma tão boa quanto o orgulhoso, ou alguém consegue algo que o arrogante estava tentando e não conseguia; tudo é como uma correnteza que vem e carrega suas emoções, fazendo perder a estabilidade. A percepção da frustração em relação à situação resulta em fúria e violência.

Mas ninguém precisa viver para sempre preso ao sentimento de orgulho! Deus é Pai, e em Cristo Ele nos adotou, nos fazendo filhos: “Em amor nos predestinou para sermos adotados como filhos por meio de Jesus Cristo, conforme o bom propósito da sua vontade,” (Efésios 1:5). Mesmo que alguém não tenha tido um pai terreno para lhe transmitir identidade, (seja essa ausência física, afetiva ou de compromisso) Deus entra em nossas vidas para fazer isso, porque a identidade sempre vem pelo pai.


Mas o processo de Deus restaurar a identidade do soberbo é um processo complicado porque o orgulhoso já está armado em sua arrogância e entende o cuidado de Deus como uma agressão. O orgulhoso tem uma carapaça que precisa ser tirada para que seu caráter possa ser impresso, sua identidade.

O arrogante tem muita raiva de Deus (seja isso consciente ou não), porque Deus não tem compromisso em manter o ego, arrogância, soberba e reputação da pessoa, mas tem compromisso com o propósito e a identidade dela. O orgulhoso vive o conflito interno do vício do orgulho tentando ser mantido, a raiva da ausência da paternidade, as pernas vacilantes por não ter fundamento. A pessoa sente como se na vida, tudo e todos estivessem contra ela. Por seus pés estarem apoiados na areia, nunca se estabiliza para andar, está sempre sentindo como se fosse levado pelas correntezas; e essas correntezas sempre são percebidas como agressão recebida e retribuída com violência. O orgulhoso está sempre nervoso, agitado; mesmo que tudo esteja bem, ele tem a oscilações de temperamento: num momento está tudo bem, mas qualquer informação, qualquer coisa que aconteça, podendo ser uma conversa, algo que viu, qualquer coisa vai abalar aquele sentimento do orgulho e o soberbo cai no fundo do poço. Não tem um meio termo, a todo tempo está enganando a si mesmo sem ter consciência disso.

Quando o Pai tentar tirar o orgulhoso de dentro das águas da correnteza, o arrogante sentirá um peso terrível, e vai se perguntar porque não pode viver dentro da água. Quando sai d’água, sente ódio de Deus, não entende porque não pode ter tudo o que quer, sem ter que mudar sua referência de como enxerga as coisas. É uma luta do Pai tentando puxar a pessoa para vida, imprimir uma identidade, ser Pai ativo e presente, mostrando a vida como ela deveria ser.

Tudo que Deus faz como Pai para dar identidade, para conferir o propósito verdadeiro, o orgulhoso lutará contra porque seus valores são divergentes. O propósito do orgulhoso é sustentar o orgulho e não o propósito pelo qual nasceu. O trabalhar de Deus na vida do soberbo será como uma desintoxicação do vício do orgulho, onde os sintomas da desintoxicação serão sentidos pela pessoa.

Quando a pessoa tem identidade, ela sabe quem ela é, o que significa ter um conjunto de valores dado por Deus (seja a pessoa cristã ou não). Não é um conjunto de habilidades que desenvolve um propósito da vida, mas é um conjunto de valores que nos leva o propósito.

O filho que entende os valores dados por Deus para sua vida, se desenvolve e cumpre o seu propósito. O próprio propósito impulsiona a pessoa no caminho que ela deve andar, e para que ela cumpra o propósito, Deus lhe dá um conjunto de habilidades. Não é o orgulho que a impulsiona, são os valores que a impulsiona. É algo que não se pode reter, é o fruto que frutifica.

O orgulhoso precisa ser esvaziado, porque colocou o orgulho no lugar da identidade. A guerra e o ódio contra Deus realmente é intenso. Os valores de Deus são considerados desprezíveis, porque Deus mexe com os fundamentos errados que o motivam (o orgulho). Deus coloca evidente a areia debaixo dos pés para despertar, mostrar os fundamentos de areia do orgulho. Nisto Deus está dando uma chance para levá-lo para vida. Deus está tirando-o do vício, para que a pessoa possa viver, ter uma vida de verdade, tenha o Pai, uma identidade, um propósito. Glória a Deus, Ele nunca desiste do filho que ama.


Geraldo Júnior e Valéria Morais
Transformados pela Renovação do Pensamento
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