diHITT - Notícias Transformados pela Renovação do Pensamento: Orgulho como consequência da orfandade

quarta-feira, 4 de abril de 2018

Orgulho como consequência da orfandade


A orfandade paterna hoje é uma das maiores, senão a maior ferida da humanidade. Nada tem um poder tão grande de destruir a personalidade, princípios, valores e identidade de uma pessoa do que a falta de um referencial paterno. Esta orfandade pode ocorrer tanto na forma física, com a ausência física de um pai; quanto na ausência emocional, com um pai presente fisicamente, mas sem compromisso, gerando órfãos conhecidos como órfãos de pais vivos, ou órfãos de pai presente.

Atualmente temos muitos estudos que comprovaram a imprescindibilidade de um referencial paterno na vida de uma pessoa, pois é o pai o responsável por ser referencial para o filho ter identidade, caráter, auto afirmação e convicção de quem ele é, e trazer também a base de princípios e valores onde é construída sua personalidade. O referencial de pai é tão imprescindível na vida de um filho, que um dos principais propósitos de Jesus foi nos revelar o Pai, e mostrar que não éramos órfãos, que tínhamos um Pai, o qual se revelava e se manifestava n’Ele. “Disse-lhe Jesus: Estou há tanto tempo convosco, e não me tendes conhecido, Filipe? Quem me vê a mim vê o Pai; e como dizes tu: Mostra-nos o Pai?” João 14:9

Conforme dito no início, as feridas e as consequências da orfandade são enormes, terríveis e várias. Mas neste texto quero me ater especificamente a uma dessas consequências, extremamente destrutiva para uma pessoa, e infelizmente muito comum dentro da orfandade. Estou falando do ORGULHO. Coloquei tudo maiúsculo de propósito, pois o orgulho é uma das piores deformidades da alma de um ser humano. É um comportamento que nos deixa profundamente distantes do caráter de Deus, da nossa verdadeira identidade e propósito. Sem falar que é um comportamento que traz muita destruição para a vida da própria pessoa e para todos que estão ao redor dela.

Mas como o orgulho passa a fazer parte da pessoa? Uma pessoa que não teve o referencial de pai, de caráter, de entendimento, a transmissão do DNA de entendimento de perspectiva da vida, de consciência de si, de honra no sentido de atitudes, não teve a base paterna para ter segurança em si mesmo; consequentemente terá problema de identidade.

O que quero dizer com problema de identidade? Significa que a ausência de paternidade gera uma ausência de convicção de princípios, de direção na vida; de maturidade em saber tanto acertar quanto errar, não saber firmar os pés no sentido de entendimento de si mesmo.

A pessoa que tem problema com paternidade (o pai não transferiu para ela uma identidade), desenvolve comportamento de orgulho como uma busca de auto afirmação daquilo que ela não tem, porque ela não tem onde firmar seus pés.

A arrogância surge como uma resposta de compensação: “eu não sei quem sou, mas tenho habilidade em ‘tal’ sentido”, então sou o que faço”. Como consequência a pessoa passa a se orgulhar daquilo que sabe fazer para compensar a ausência do “sei quem sou”.

Isso acontece porque a pessoa está perdida, não sabe diferenciar identidade (que viria transmitida pela paternidade) de habilidade (dom). O orgulhoso tem uma ferida em relação à paternidade: a dificuldade em saber sua identidade, e por isso precisa provar-se para si e para os outros, tentando passar uma imagem de ser forte. O orgulho faz com que a pessoa considere se importante demais para si mesmo.

O soberbo queria ter uma identidade forte, mas ele não tem. Se ele possuísse uma imagem forte de si mesmo, não precisaria se orgulhar. Perguntaram para Jesus se ele era servo de  Belzebu, mas ele não se ofendeu (Lucas 11:15); as pessoas o xingaram, cuspiram, falaram mal, difamaram, inventaram histórias sobre Jesus, mas nada o atingiu, porque Jesus tinha identidade, ele aprendeu do Pai quem ele era.

E, despindo-o, o cobriram com uma capa de escarlate; “E, tecendo uma coroa de espinhos, puseram-lha na cabeça, e em sua mão direita uma cana; e, ajoelhando diante dele, o escarneciam, dizendo: Salve, Rei dos judeus. E, cuspindo nele, tiraram-lhe a cana, e batiam-lhe com ela na cabeça. E, depois de o haverem escarnecido, tiraram-lhe a capa, vestiram-lhe as suas vestes e o levaram para ser crucificado”. Mateus 27:28-31

“Ele foi oprimido e afligido, mas não abriu a sua boca; como um cordeiro foi levado ao matadouro, e como a ovelha muda perante os seus tosquiadores, assim ele não abriu a sua boca.” Isaías 53:7

A pessoa com identidade não fica abalada quando seu orgulho é atingido. A pessoa que se abala é exatamente porque não tem identidade firmada, porque sua convicção está fundamentada no orgulho (preso a necessidade de ser o melhor em suas habilidades) e não em uma verdade.

O fundamento do orgulho pode ser comparado a se ter os pés na areia. Por mais que a pessoa imagine ter convicção sobre si mesmo, na verdade, aquilo é areia. Como o orgulho é uma compensação pela ausência de identidade, a pessoa sente a necessidade de amenizar o vazio da falta dessa identidade, se agarrando a tudo o que consegue fazer com desenvoltura, ficando com ego super inflado quando se sobressai nas situações. Mas esta é uma sensação que dura apenas alguns momentos, e logo em seguida sente-se quase que uma depressão e nisto a necessidade de ser aplaudido novamente. Entretanto, é impossível sobressair-se sempre.

A soberba desenvolve-se como um vício, uma dependência, e consequentemente uma oscilação emocional muito forte porque sempre tem que se estar certo, sempre tem que ser o poderoso, ser o que manda, acertar tudo; mas na vida é impossível que o “sempre” aconteça. Por isso é impossível sustentar o vício do orgulho elevado sem intervalos.

Mesmo que uma pessoa tenha áreas em sua vida que se destaque, ninguém consegue se destacar em tudo. Então é como se dentro da pessoa houvesse aqueles momentos de êxtase e os momentos de depressão. Ela vive os êxtases e as “pancadas das quedas”. É uma pessoa emocionalmente imatura e insegura, porque só sabe viver no êxtase. Tudo que abala este êxtase mexe com seu ego. Ou é uma pessoa que tem o domínio, ou sente-se em profunda frustração. Não existe meio termo. É realmente como um vício, a pessoa não sabe viver no meio termo. Ou a pessoa está eufórica, porque tudo saiu do jeito que ela queria, ou ela está “na mais profunda lama”.  Não sabe viver o contente em todas as circunstâncias da vida como nos ensina Bíblia: “Não estou dizendo isso porque esteja necessitado, pois aprendi a adaptar-me a toda e qualquer circunstância. Sei o que é passar necessidade e sei o que é ter fartura. Aprendi o segredo de viver contente em toda e qualquer situação, seja bem alimentado, seja com fome, tendo muito, ou passando necessidade.” Filipenses 4:11-12

Como um vício, a arrogância pode desenvolver-se gradualmente e segundo as carências de cada um.

A questão do sentimento de depressão que a pessoa sente quando não está em êxtase, não se manifesta com o sentimento de querer morrer (ainda que possa acontecer), mas se manifesta como um sentimento de se sentir diminuído diante das outras pessoas (reputação). A pessoa não precisa estar numa posição tão abaixo, basta estar menos do que o auge. Mesmo que se esteja no mesmo nível de um grupo de pessoas, o sentimento de fracasso existirá, porque o orgulhoso sente necessidade de estar acima do grupo para ter o ego super elevado.

O ego do arrogante é desproporcional porque sua perspectiva é o ego, e não a realidade. O orgulhoso engana a si mesmo. Mesmo que existam áreas em sua vida que tenha facilidade, o soberbo engana a si mesmo, crendo que ele tem facilidade em tudo. Mas Deus não nos criou para termos facilidade em tudo, nos criou como corpo, para que os dons de cada um se completem.

“O olho não pode dizer à mão: Eu não preciso de ti; nem a cabeça aos pés: Não necessito de vós. Antes, pelo contrário, os membros do corpo que parecem os mais fracos, são os mais necessários. E os membros do corpo que temos por menos honrosos, a esses cobrimos com mais decoro. Os que em nós são menos decentes, recatamo-los com maior empenho, ao passo que os membros decentes não reclamam tal cuidado. Deus dispôs o corpo de tal modo que deu maior honra aos membros que não a têm, para que não haja dissensões no corpo e que os membros tenham o mesmo cuidado uns para com os outros.
Se um membro sofre, todos os membros padecem com ele; e se um membro é tratado com carinho, todos os outros se congratulam por ele. Ora, vós sois o corpo de Cristo e cada um, de sua parte, é um dos seus membros”. 1 Coríntios 12:21-27

O orgulhoso tem uma vida de frustrações: de altos e baixos; sendo emocionalmente instáveis.

Como em um vício, o fator destrutivo também aparece, tanto se auto destruindo como destruindo tudo à sua volta (família, amizades, emprego...). Destrói qualquer coisa para manter o vício.

Quando Deus fala de orgulho na Bíblia, a entidade que Ele mostra para representar o orgulho (Leviathan) mora no mar. “Naquele dia o SENHOR castigará com a sua dura espada, grande e forte, o leviatã, serpente veloz, e o leviatã, a serpente tortuosa, e matará o dragão, que está no mar.”  (Isaías 27:1). O mar nos dá a analogia perfeita de como é a vida de quem vive no orgulho. No mar não há firmeza, é tudo muito instável. O fundamento do mar é areia. Quando se acha que há paz e estabilidade, uma onda, uma tempestade ou uma correnteza vem e acaba com tudo aquilo, trazendo medo, raiva, instabilidade, angústia e insegurança. Dentro do mar não se vive a verdade, não precisa ter equilíbrio, não precisa e nem consegue se firmar em nada, não sente ou sofre a gravidade, não sente ou sofre os desafios de um ser humano em terra. No mar é impossível desenvolver a natureza humana. Por isso a pessoa perde sua identidade, propósito e natureza.

Usando a analogia bíblica do mar pode-se dizer que o arrogante tem sua vida e suas emoções como de quem “vive” no mar: ondas, correntezas, dificuldade de se locomover andando, sensação de peso quando se sai da água (sair da água simboliza ir para vida real). Quando vem uma ventania, as ondas se agitam e no agitar delas, elas o carrega. Mas ao mesmo tempo, sensação de leveza quando se está dentro d`água. O mar é um bom exemplo porque ele confunde muito, tira o referencial das sensações da realidade na terra (vida).

No mar não conseguimos ter domínio sobre nós mesmos porque vem uma correnteza e nos muda de posição. É a analogia de se alcançar uma posição de destaque e depois aparecer uma situação em que se perde a posição alcançada. Sempre existe “um peixe maior”, sempre vai aparecer alguém que se destaca mais, que tem mais facilidade.

O orgulhoso tem muita dificuldade de relacionamento, porque sempre tem que ser exaltado nas situações e quando não o é, fica extremamente irritado, porque se sente humilhado, agredido.

Por não estar firmado em terra, na rocha, o viciado em orgulho não sente as dificuldades da vida como algo normal, ele percebe tudo como uma pancada, uma agressão pessoal; tudo entra arrebentando, tudo desmorona a pessoa. Ao perceber essa instabilidade da vida, começa a achar que Deus é injusto. Quando aparece alguém que faz algo de forma tão boa quanto o orgulhoso, ou alguém consegue algo que o arrogante estava tentando e não conseguia; tudo é como uma correnteza que vem e carrega suas emoções, fazendo perder a estabilidade. A percepção da frustração em relação à situação resulta em fúria e violência.

Mas ninguém precisa viver para sempre preso ao sentimento de orgulho! Deus é Pai, e em Cristo Ele nos adotou, nos fazendo filhos: “Em amor nos predestinou para sermos adotados como filhos por meio de Jesus Cristo, conforme o bom propósito da sua vontade,” (Efésios 1:5). Mesmo que alguém não tenha tido um pai terreno para lhe transmitir identidade, (seja essa ausência física, afetiva ou de compromisso) Deus entra em nossas vidas para fazer isso, porque a identidade sempre vem pelo pai.


Mas o processo de Deus restaurar a identidade do soberbo é um processo complicado porque o orgulhoso já está armado em sua arrogância e entende o cuidado de Deus como uma agressão. O orgulhoso tem uma carapaça que precisa ser tirada para que seu caráter possa ser impresso, sua identidade.

O arrogante tem muita raiva de Deus (seja isso consciente ou não), porque Deus não tem compromisso em manter o ego, arrogância, soberba e reputação da pessoa, mas tem compromisso com o propósito e a identidade dela. O orgulhoso vive o conflito interno do vício do orgulho tentando ser mantido, a raiva da ausência da paternidade, as pernas vacilantes por não ter fundamento. A pessoa sente como se na vida, tudo e todos estivessem contra ela. Por seus pés estarem apoiados na areia, nunca se estabiliza para andar, está sempre sentindo como se fosse levado pelas correntezas; e essas correntezas sempre são percebidas como agressão recebida e retribuída com violência. O orgulhoso está sempre nervoso, agitado; mesmo que tudo esteja bem, ele tem a oscilações de temperamento: num momento está tudo bem, mas qualquer informação, qualquer coisa que aconteça, podendo ser uma conversa, algo que viu, qualquer coisa vai abalar aquele sentimento do orgulho e o soberbo cai no fundo do poço. Não tem um meio termo, a todo tempo está enganando a si mesmo sem ter consciência disso.

Quando o Pai tentar tirar o orgulhoso de dentro das águas da correnteza, o arrogante sentirá um peso terrível, e vai se perguntar porque não pode viver dentro da água. Quando sai d’água, sente ódio de Deus, não entende porque não pode ter tudo o que quer, sem ter que mudar sua referência de como enxerga as coisas. É uma luta do Pai tentando puxar a pessoa para vida, imprimir uma identidade, ser Pai ativo e presente, mostrando a vida como ela deveria ser.

Tudo que Deus faz como Pai para dar identidade, para conferir o propósito verdadeiro, o orgulhoso lutará contra porque seus valores são divergentes. O propósito do orgulhoso é sustentar o orgulho e não o propósito pelo qual nasceu. O trabalhar de Deus na vida do soberbo será como uma desintoxicação do vício do orgulho, onde os sintomas da desintoxicação serão sentidos pela pessoa.

Quando a pessoa tem identidade, ela sabe quem ela é, o que significa ter um conjunto de valores dado por Deus (seja a pessoa cristã ou não). Não é um conjunto de habilidades que desenvolve um propósito da vida, mas é um conjunto de valores que nos leva o propósito.

O filho que entende os valores dados por Deus para sua vida, se desenvolve e cumpre o seu propósito. O próprio propósito impulsiona a pessoa no caminho que ela deve andar, e para que ela cumpra o propósito, Deus lhe dá um conjunto de habilidades. Não é o orgulho que a impulsiona, são os valores que a impulsiona. É algo que não se pode reter, é o fruto que frutifica.

O orgulhoso precisa ser esvaziado, porque colocou o orgulho no lugar da identidade. A guerra e o ódio contra Deus realmente é intenso. Os valores de Deus são considerados desprezíveis, porque Deus mexe com os fundamentos errados que o motivam (o orgulho). Deus coloca evidente a areia debaixo dos pés para despertar, mostrar os fundamentos de areia do orgulho. Nisto Deus está dando uma chance para levá-lo para vida. Deus está tirando-o do vício, para que a pessoa possa viver, ter uma vida de verdade, tenha o Pai, uma identidade, um propósito. Glória a Deus, Ele nunca desiste do filho que ama.


Geraldo Júnior e Valéria Morais
Transformados pela Renovação do Pensamento
https://renovacaodopensamento.blogspot.com.br/

Nenhum comentário:

Postar um comentário