A orfandade paterna é uma das maiores feridas sociais do nosso tempo, e prova disso é que a cada ano que passa, mais crianças nascem sem sequer receber o nome do pai no seu registro de nascimento. Existe ainda a orfandade dos pais que até estão presentes, mas sem o compromisso necessário para revelar a paternidade (pois geralmente acham que a provisão financeira contempla todo compromisso paterno). Há ainda muitas formas da orfandade se manifestar, vejamos algumas:
Hoje vemos pais que se afundam no trabalho (mesmo que na igreja) para competir e ostentar suas façanhas e conquistas profissionais, e como consequência disso, são ausentes, negligentes e omissos em suas responsabilidades familiares. Ainda tem aqueles que usam da provisão financeira apenas como uma desculpa “aceitável” para fugir propositalmente da responsabilidade de sentar com sua família e se comprometer diariamente com ela.
Há pais que entregam seus corações aos vícios e hobbies, se embriagando com as paixões dessa vida, se distanciando cada vez mais do seu verdadeiro propósito familiar. Além de distanciamento, esses vícios transformam esses pais em pessoas abusivas e violentas, geralmente com a própria família.
Também existem pais que adulteram e traem suas esposas. Aliás, ninguém trai o seu cônjuge simplesmente. Quem adultera, trai a família inteira, tanto o cônjuge quanto os filhos.
Essa falta de referencial paterno enche a Terra de injustiças. Geram feridas profundas na alma desses filhos, que chegam a vida adulta manifestando todo tipo de consequências por causa dessas feridas: violência, orgulho, passividade, necessidade de controle, insegurança, medo, carência e muitos outros. Consequentemente, esses quando ficarem adultos, replicarão essa falta de referencial paterno, alimentando assim o ciclo da orfandade por mais uma geração.
É preciso ser resgatado o conceito e princípio de paternidade para que haja cura e cesse esse ciclo de injustiças. “Vejam, eu enviarei a vocês o profeta Elias antes do grande e temível dia do Senhor. Ele fará com que os corações dos pais se voltem para seus filhos, e os corações dos filhos para seus pais; do contrário, eu virei e castigarei a terra com maldição.” (Malaquias 4:5-6).
Um dos grandes problemas culturais do entendimento de paternidade é que estamos confundindo o comportamento instintivo de genitor com paternidade. Pois, segurança (física), ninho e comida em casa os animais também oferecem. Mas NUNCA serão pais.
A paternidade existe quando de forma consciente, intencional (não instintiva), nego algo que queria para mim (até lícito) para que os filhos tenham vida. A paternidade pressupõe o amor sacrificial. Assim como Cristo, que abriu mão daquilo que era lícito (mesmo possuindo o direito de ser Deus, não se considerou igual a Deus), e se sacrificou para que tenhamos vida!
“Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus, que, embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens. E, sendo encontrado em forma humana, humilhou-se a si mesmo e foi obediente até a morte, e morte de cruz!” (Filipenses 2:5-8)
Em Levítico 26:27-29 Deus diz que por causa da desobediência aos Seus princípios, surgiria uma geração de pais que não somente perverteriam a paternidade a um mero instinto animal de provisão, mas também se alimentariam de seus próprios filhos, assim como é comum em muitas espécies de animais. Infelizmente é exatamente isso o que acontece hoje. Movidos por carências, expectativas, culpa e desejo de controle, os pais têm se alimentado dos seus filhos, mimando-os e deixando de corrigi-los, satisfazendo assim o seu apetite de serem aceitos e amados. Isso é se alimentar de seus filhos! "Se, apesar disso tudo, vocês ainda não me ouvirem, mas continuarem a opor-se a mim, então com furor me oporei a vocês, e eu mesmo os castigarei sete vezes mais por causa dos seus pecados. Vocês comerão a carne dos seus filhos e das suas filhas.” (Levítico 26: 27- 29)
Isso é exatamente o oposto da paternidade, pois ao invés de se sacrificar para que a próxima geração tenha vida, esses pais se alimentam do que seus filhos podem oferecer para suprir suas carências e expectativas. Esse comportamento obviamente gera a morte (emocional, do propósito e até física) desses filhos.
A paternidade é quando se abre mão de ser amado e aceito para corrigir, dar uma bronca ou até disciplinar se for preciso. A paternidade faz o que tem que ser feito, na convicção de que é o melhor para os filhos, não levando em consideração a si mesmo (suas carências), mas sim o que precisa ser feito em amor (não importando se seus filhos vão ficar chateados com os pais). Deus não tem problemas em corrigir e disciplinar os seus filhos, pois não é movido por carências, faz o que sabe que é melhor para os seus, pois os ama. “Meu filho, não despreze a disciplina do Senhor nem se magoe com a sua repreensão, pois o Senhor disciplina a quem ama, e castiga todo aquele a quem aceita como filho” (Hebreus 12:5-6). Não podemos controlar as respostas dos filhos, mas podemos ser referencial e direção do caminho correto. Veja Caim, foi corrigido e disciplinado por Deus e se revoltou. Davi também foi corrigido e disciplinado por Deus, mas se arrependeu e se converteu.
A paternidade é o compromisso assumido de ofertar, compartilhar e sacrificar intencionalmente a nós mesmos para que os filhos tenham vida. É por isso que Jesus veio ao mundo como Filho, mas voltou para o Pai como pai. “E também: ‘Nele porei a minha confiança’. Novamente ele diz: ‘Aqui estou eu com os filhos que Deus me deu.’” (Hebreus 2:13)
Geraldo Júnior e Valéria Morais
Transformados pela Renovação do Pensamento
https://renovacaodopensamento.blogspot.com.br/